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Critiques

O livro de Kagan é uma boa introdução ao tópico da morte, mesmo que tenha me deixado insatisfeito no final da leitura.

Os primeiros sete capítulos tratam puramente de filosofia da mente e da metafísica de pessoas, com Kagan avaliando as duas principais alternativas à primeira questão, "o que são pessoas, ontologicamente falando?", e as três principais alternativas à segunda questão, "no que consiste uma pessoa existir ao longo do tempo?". Ele percorre o caminho analisando os principais argumentos postos a favor do dualismo e da imortalidade da alma e os principais experimentos mentais dentro da literatura de identidade pessoal para, no fim, chegar uma posição fisicalista sobre pessoas, com um critério fisicalista de identidade pessoal (oscilando entre o critério de personalidade e o critério de corpo).

Sinceramente, a leitura inteira destes capítulos não valeu muito a pena. Quem já está familiarizado com a literatura básica da filosofia da mente e sabe quais são os debates e posições relevantes não perderá quase nada pulando a maioria destes capítulos (salvo o capítulo 2, no qual Kagan tenta delimitar as posições principais que ele considerará no debate metafísico). E, mesmo levando em conta leitores leigos quanto à filosofia da mente, eu ainda sinto que há um problema com a escrita um tanto repetitiva de Shelly e seus longos parágrafos para ilustrar pontos que já estavam bem claros anteriormente. Eu entendo que é um livro com propósitos introdutórios, mas eu sinto que Kagan vai longe demais em alguns momentos (as várias páginas gastas só para introduzir o tópico de identidade pessoal com exemplos de trens e carros são um exemplo). Eu também posso comentar que alguns dos argumentos de Kagan nesses capítulos não me convencem nem um pouco, mas isso é parte da experiência.

Os capítulos 8 e 9 prosseguem nas discussões metafísicas, dessa vez adentrando no tópico de morte. Aqui, Kagan já assume uma posição fisicalista de início e busca responder questões como o momento exato que uma morte ocorre (o que fundamentalmente depende do nosso critério de identidade pessoal), o que devemos entender por morte (o que depende da resposta dada à questão anterior), e a relação entre morte e não-existências de acordo com os critérios de personalidade e de corpo. Depois, ele busca analisar (e depois rejeitar) duas afirmações surpreendentes sobre a morte: (I) a de que ninguém acredita em sua própria morte; (II) a de que tomos morremos sozinhos. O capítulo 8 foi uma ótima discussão, e certamente me deixou mais interessado no assunto e os debates centrais da morte, mas eu não posso dizer o mesmo do capítulo 9. A única coisa interessante deste capítulo é o contraexemplo dado por Kagan ao argumento do ponto de vista para a descrença na própria morte, pois me parece que os erros cometidos nesse argumento estranhamente se assemelham aos erros nos argumentos dados a favor de posições como o idealismo (o master argument de Berkeley, p. ex.)

O restante dos capítulos deixa de lado as discussões metafísicas, e entra nas questões valorativas e éticas sobre a morte, começando pela possibilidade da morte ser um mal para nós (com Kagan extensivamente argumentando contra os paradoxos e quebra-cabeças levantados por Epicuro e Lucrécio, e defendendo uma concepção da morte como um mal comparativo). Esse foi o capítulo mais interessante e animador do livro, e eu fiquei bastante satisfeito com a discussão e tópicos levantados nele. Certamente é um material do qual me utilizarei para dar aulas e me guiar em algumas discussões.

Infelizmente, eu não posso dizer o mesmo do restante dos capítulos. O capítulo de imortalidade foi um sonífero para mim, e a partir do capítulo sobre o valor da vida (no qual Kagan defende uma visão de "balança de bens e males" para determinar o valor de cada vida, o que me parece bastante suspeito) eu já queria logo terminar o livro. A breve discussão no capítulo 13 acerca da relevância do arco narrativo na determinação do valor do composto vida-morte foi no entanto bastante interessante, mais por me fazer pensar sobre a real importância de pensarmos nossa vida como narrativas (e eu sei que há filósofos que não concordam com esta visão particular). Também não deixo de mencionar o capítulo sobre suicídio, que, mesmo sendo um tanto insatisfatório, consegue apresentar de maneira sucinta as duas questões principais sobre o fenômeno (a possibilidade de suicídio ser uma escolha racional diante de uma situação de vida, e a moralidade do ato de cometer suicídio).

No fim, foi uma boa leitura. Meu problema mesmo é a duração e o modo de apresentação de alguns dos problemas por parte de Kagan. Há também o fator de meu desinteresse significativo por questões como imortalidade, o modo como devemos viver nossa vida diante do fato da morte, e a concepção de valor da vida como um resultado de balança de bens e males. Então eu sou levado a crer que outras pessoas podem tirar mais proveito destas discussões do que eu. Mas posso dizer que estarei procurando saber mais sobre o tópico da morte no futuro.
 
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iogavagai | 1 autre critique | Jul 31, 2021 |
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knol | 1 autre critique | Aug 23, 2015 |