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Ricardo Lísias

Auteur de O céu dos suicidas

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Œuvres de Ricardo Lísias

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Granta Japan with Waseda Bungaku 02: Best of Young Novelists (2015) — Contributeur — 1 exemplaire

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Nom canonique
Lísias, Ricardo
Date de naissance
1975
Sexe
male
Nationalité
Brasil

Membres

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Paulo, executivo de um grande banco multinacional, com sede em Londres e presença em boa parte do globo, vive um momento de grande expectativa em sua carreira. A matriz do banco elabora uma ousada entrada no mercado chinês e busca em seus quadros os melhores nomes para levar o projeto à frente. O nome de Paulo destaca-se.

Aliás, o nome destaca-se até não mais poder. Isto porque Paulo, que tem como secretária a Paula (filha do seu Paulo e tia do Paulinho), e conta com o apoio da Paula do RH (que, por sua vez, responde diretamente ao presidente do banco no Brasil, o irlandês Paul), faz de tudo para ser escolhido pelo figurão Paulson, em Londres, para chefiar o Projeto China. No meio do caminho, contudo, sofre com as fofocas que correm pela empresa: a Paula cochicha com a Paula que o Paulo se veste mal, o Paulo ri com o Paulo sobre as pretensões do chefe Paulo. Tudo isso só poderia ocorrer, claro, em São Paulo…

A princípio a estratégia de Ricardo Lísias em seu O livro dos mandarins (Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, 344p.) pode deixar o leitor confuso (um efeito certamente pretendido), mas logo o torvelinho em que o autor nos coloca começa a jogar a favor da trama. Egocêntrico, auto-centrado, Paulo enxerga o mundo como um espelho. Tudo e todos estão lá para validar sua trajetória, existindo meramente para evidenciar sua supremacia. Vale dizer: alguns dos outros poucos nomes que aparecem no livro são o de Fernando Henrique Cardoso (ídolo absoluto de Paulo), Mao Tse-Tung e Godói (“esse filho da puta”), o grande antagonista da trama. O nome vai ganhando variações, incorporando adjetivos, ou transmutando-se conforme a história avança: “o homem Paulo”, “profissional brilhante”, “Maozinho” (…), Paul*, depois Pau**, até chegar ao enigmático e despersonalizado *****.

Utilizando como recurso estilístico o maçante jargão corporativo, o romance de Ricardo Lísias é o registro de uma existência alienada. Retire o ambiente empresarial e os infinitos estratagemas de Paulo para ganhar prestígio e galgar postos mais altos dentro da hierarquia do banco e o que teremos? Nada. Nenhum amigo, nenhum familiar — as pessoas que se sucedem na trama são como degraus, peças num jogo estúpido de um único jogador. O único traço que o distingue como indivíduo é uma dor nas costas que o acompanha desde criança. A única característica que o faz humano (e não apenas um apêndice da corporação) é a dor.

Outro recurso utilizado com bastante habilidade pelo autor, a reiteração de informações (sobre a dor, sobre a futura descoberta da cama Ceragem, sobre as características profissionais de Paulo ou de seus colegas de empresa), que voltam e voltam pontuando o avanço da história, parece ser remédio para um “leitor esquecido”, pouco antento, que está “sempre chegando” ou que está pouco se lixando para o que está sendo dito. Parece indicar um diálogo autista com o mundo, em que o narrador tem pouca segurança de que aquilo que diz está sendo realmente recebido pelos possíveis leitores. Um discurso em que pouco importa o que o receptor está achando do que está sendo dito. Importa falar, exprimir, “colocar para fora”, e não necessariamente se comunicar. Parece indicar a absoluta solidão em que Paulo — perdido em meio a seus infinitos reflexos — se encontra. É como se o narrador emergisse da consciência atual, passada e futura do protagonista. O resultuado é um fluxo narrativo entrecortado, confuso, cheio de retornos e tautologia.

Sob certo ponto de vista, O livro dos mandarins pode não ser das leituras mais agradáveis — no sentido de uma leitura “edificante”, que apresenta a cada esquina de parágrafo respostas e alívios morais para o leitor. Não, nesse sentido não é definitivamente um livro agradável. Pelo contrário, ele incomoda, angustia, sacode e procura gerar esclarecimento (dando fim à verdade aparente, confortável, e trazendo à luz as milhares de facetas dela que se escondem atrás das certezas do dia-a-dia). É esse o projeto de Ricardo Lísias. E para levá-lo a cabo, o autor corre todos os riscos, indo até os limites, desafiando as fronteiras do que poderia ser considerado pelos mais apressados “chato”, “maçante”, “esquemático”. O fato é que há diversos sabores a serem apreciados no mundo: o amargo, o azedo, o ácido, dependendo da combinação e da habilidade do chef, podem dar origem a pratos de valor inigualável. E até agora, Ricardo Lísias tem provado ser um grande chef.

[ http://oqueijoeosvermes.wordpress.com/2010/02/20/a-china-de-paulo-e-de-ricardo/ ]
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Signalé
Ronoc | Feb 20, 2010 |

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