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A propos de l'auteur

Œuvres de Luis Augusto Fischer

Dicionário de Porto-Alegrês (2000) 8 exemplaires
Quatro Negros (2005) 4 exemplaires
Inteligência Com Dor (2009) 3 exemplaires
Dicionário de Porto-Alegrês (1999) 3 exemplaires

Étiqueté

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Date de naissance
1958-01-25
Sexe
male
Nationalité
Brazil
Lieux de résidence
Novo Hamburgo, Brazil
Porto Alegre, Brazil
Études
UFRGS

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Critiques

Machado e Borges: Clássicos e Formativos

Um ensaio em certa medida interessante e apelativo — no bom sentido da palavra. Que — felizmente — vai um pouco além do caráter formativo do título e da pura historiografia, chegando, inclusive, a medir lado a lado o texto destes dois grandes autores e mostrar semelhanças, para mim, grandiosas, que colocam esses dois gênios em consonância, sem cair nunca naquela palavrinha perigosa: influência. Em Brás Cubas há pistas de que Machado enveredou por onde enveredaria Borges no seu Pierre Ménard; em "A Chinela Turca" de Machado há a mesma vertigem onírica de "El Sur"; de novo em Brás Cubas, um delírio de Brás o coloca num mesmo plano que Carlos Argentino joga Borges (personagem) no "El Aleph":
Se quisermos fazer uma pequena brincadeira espacial, fiquemos com esta, para distinguir Brás e Borges, o delírio que começa no lombo de um hipopótamo e aquela visão que começa debaixo da escada: Brás viu tudo não em um ponto do universo, mas a partir de um ponto, o alto de uma montanha, de onde tudo lhe ficou visível; Borges viu tudo a partir de um ponto, que era a posição obrigatória ensinada pelo dono da casa, e também tudo em um ponto, “una pequeña esfera tornasolada, de casi intolerable fulgor”, com um diâmetro de “dos o tres centímetros”. É quase a mesma situação, mas Brás descortina uma paisagem vasta diante de si — o que sim é igual é a concentração das coisas, dos feitos humanos, dos sentimentos, das recordações, no tempo, mais do que no espaço: a simultaneidade, que está inscrita na obra dos dois pela via de um delírio, de uma visão mirífica, que solapa o realismo habitual, vizinhando com o discurso do fluxo da consciência mas permanecendo no campo controlado do discurso racional, que permite a ironia.


Essa aproximação, mais diretamente literária, ao menos para mim, é o apelo e o ouro deste Ensaio. E o chamo de apelativo, pois — pelo amor de deus, sei que por méritos literários o Machado não precisa disso — mas é um bom jeito de fazer com que se olhe para ele num prisma diferente; eu por exemplo, li Borges por prazer antes de ler Machado, que era para mim só um autor escolar; e quantos outros não há por aí que fazem/fizeram o mesmo, e nestes casos que dizer só que algo é bom não basta para fazê-los ler, talvez apelar para as semelhanças com um autor de que eles gostem ajude. Neste caso, esse ensaio (ou mais especificamente, parte dele) é perfeito, tanto que me deu uma imensa vontade de reler Brás Cubas.

O Ensaio, no entanto, não se fecha completamente em si, culminando num outro: Poe e Machado, que pelo que li, tem outros objetivos (por que razão Poe e Borges, consequentemente, foram um sucesso na Europa, e o Machado não, se há méritos de sobra para tal?).

Voltando, no entanto, para chegar no dorso forte desse ensaio aqui, é preciso passar por cinquenta e poucas páginas não ruins, mas menos interessantes, onde a análise dos textos fica em segundo plano para a história: a época em que ambos se inseriam, a relação com a política, a juventude e a maturidade, as referências, a relação com o nacional e o internacional em questão de literatura, etc. Não é tão longo nem excessivamente resumido a ponto de incomodar, para um ou para outro lado, cumpre, afinal, a função necessária para atingir o objetivo do ensaio, que é ressaltar o caráter formativo de ambos para a literatura de seus respectivos países. Não posso, portanto, criticar o texto por isso, mas apenas digo que o grosso do ensaio não é tão interessante quanto as pequenas partes que elogiei aqui.

Por alto, também interessante, são as visões de ambos com a literatura de seus países, questões de rigidez de temas nacionais, a obrigação de escrever e pintar uma cor local que incomodam Machado e Borges: Machado rebatendo os temas indianistas, e dizendo que o homem tem de escrever temas universais, mas não deixar de fruto de seu país e de seu tempo; e o Borges, algo na mesma linha, batendo os nacionalistas que queriam limitar o exercício poético da mente platina a uns pobres temas locais, como se os Argentinos só podiam falar dos subúrbios e não do universal; A linha quase cômica do ensaio, onde o Fischer aproveita cada oportunidade para arremessar pedradas na direção dos Andrades e do Modernismo Paulista, e outros pontos como a diferença social de ambos, para quem escreviam, a diferença de pessoas alfabetizadas na Buenos Aires de Borges e no Rio de Janeiro de Machado, etc., também são bem elucidativos.

Para finalizar, acho necessário sublinhar o finalzinho do ensaio, vai soar meio deslocado aqui, e não tem o mesmo objetivo que vou dar a entender, mas o Fischer cita o Borges dizendo “El hecho es que cada escritor crea a sus precursores. Su labor modifica nuestra concepción del pasado, como ha de modificar el futuro”. . É extremamente interessante pensar assim, no contexto que o Borges disse, do "Kafka y sus precursores". Mas nesse caso aqui, fica meio curiosa a citação, o alinhamento que se faz na cabeça é naturalmente que a estamos vendo algo de Borgiano no Machado, pois ele "criou seus predecessores", como ele no seu ensaio tocava em como havia algo de Kafkiano em certos poemas anteriores ao Kafka. Fiquei com um gostinho de "Borges criou esse lado da obra do Machado" que é meio estranho de pensar, e pelo que parece o Fischer certamente não pensa assim, mas enfim, é o que essa colocação dá a entender, não sei se ele ao menos percebeu o que ele abriu com essa citação logo no final do ensaio, ou talvez esse pulo seja puro devaneio meu.

Por fim, no geral é um bom ensaio; e lembrando, o livro tem outros ensaios, essa resenha aqui é para aquele que leva o título, e tem oitenta páginas. Mais tardiamente leio os outros.
… (plus d'informations)
 
Signalé
RolandoSMedeiros | Aug 1, 2023 |
Muito superficial considerando o objetivo a que se propõe.
 
Signalé
adendo | Jul 18, 2008 |

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