Cliquer sur une vignette pour aller sur Google Books.
Chargement... Pai Contra Mãe - Coleção Só Um Conto (Em Portuguese do Brasil) (édition 2007)par MacHado Assis (Auteur)
Information sur l'oeuvrePai Contra Mãe - Coleção Só Um Conto (Em Portuguese do Brasil) par Machado Assis
Aucun Chargement...
Inscrivez-vous à LibraryThing pour découvrir si vous aimerez ce livre Actuellement, il n'y a pas de discussions au sujet de ce livre. aucune critique | ajouter une critique
Aucune description trouvée dans une bibliothèque |
Discussion en coursAucun
Google Books — Chargement... GenresAucun genre ÉvaluationMoyenne:
|
Li um ensaio curioso recentemente, do Augusto Fischer, que mostra — para mim, não havia nenhuma — semelhanças entre o Jorge Luis Borges e o Machado de Assis. Um dos pontos que toca, por alto, é que o Machado deixou para tratar da questão da escravidão só em seus anos mais maduros, e nomeia como exemplo este conto aqui, produzido na maturidade do Bruxo. Portanto, resolvi relê-lo.
Minha análise, da primeira vez que li, foi essa: "um conto essencialmente brasileiro, feito de imagens carregadas e justaposições fortes, que escancaram a hipocrisia nacional através da aproximação de um episódio de violência escravista que não recorre a um moralismo barato ou a um maniqueísmo infantil."
A primeira coisa que me saltou aos olhos, desta vez, foi o narrador. O onisciente clássico, quase intrometido, que reconta uma história que já sabe o seu final a nós; e, em destaque, a ambiguidade com que este narrador conta a história. Nas primeiras páginas, você fica em dúvida quanto ao tom com que ele trata a escravidão: "Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco", e um pouco mais a frente, é menos rijo, e mais irônico, te tonteando, no mesmo assunto: "Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada."
E isso julgo importante, pois tem relação com o cerne do conto, que é menos uma questão de escravidão do que uma questão de condição humana; retomando a resenha antiga, uma tentativa de sair do maniqueísmo e do moralismo infantil mesmo num assunto que ele (o Machado) parecia achar espinhoso.
Inicialmente, o Machado parece até divagar no relato histórico, mas vai aos poucos ligando os parágrafos iniciais com o ofício de Candinho, central ao conto; coloca, explicitamente, que não é um oficio puramente fruto da vileza, e sim da pobreza, da inaptidão daquele homem; no entanto, já ai, há a justaposição com a conclusão: se a profissão por si só, não representa a maldade de um homem, o ato final sim, onde não parece haver gota de arrependimento.
Mais duas camadas aí se empilham: a da família em primeiro lugar, que ainda é um assunto próximo de nós; e duas passagens do finalzinho do conto, que, propositalmente me auto-refutam, e mostram uma certa culpa no personagem, nas cenas ligeiramente anteriores e posteriores ao aborto da escrava: "— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? perguntou Cândido Neves." Autoexplicativo, transferência de culpa, e o: " —Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração." especificamente a última parte, que não cravo que tenha a acepção que indico e nem um significado definitivo, mas mantenho aqui o destaque na maneira como ela é narrada, que é significativo para essa minha leitura.
Estes fatos, se não por si só já não lhe dão uma dose de maldade, ao menos tiram a auréola de homem ignorante que não sabe, a fundo, o que faz, ou que só vê a sua família em primeiro lugar, e nada mais. Tudo é mais complicado do que aparenta ser. Tudo é mais intricado do que aparenta inicialmente: a questão social, sobreposta pela questão psicológica do Cândido não se dar a ofícios seguros financeiramente, sobreposto ao nascimento do filho e o aperto da situação, que culmina neste vil final que bem conhecemos.
Em questões de linguagem, não achei o Machado aqui no seu melhor, ainda mais por ser um texto mais curto, onde, ao menos eu, nesses casos, espero mais apuro; em questão de prosa, certas vezes flui, e certas vezes trava; o enredo é funcional: Descrição do ambiente social do conto > Gancho com o ofício e vida do Cândido > O episódio central denso e veloz: nascimento, dificuldade e, conclusão, o aborto; a dicção, achei a parte mais problemática, senti bem repetitivo o vocabulário, principalmente quando narra a vida difícil da Tia, de Clara e de Candido, e também no final, parte central do conto, quando acontece o aborto. O impacto de uma primeira leitura, no entanto, ainda é fortíssimo.
Não concordo com quem julga o conto problemático quanto à questão da escravatura, acho-o intencionalmente ambíguo justamente pela questão do narrador, em certa medida irônico. Enfim, diminuo uma estrela, mas ainda assim é um bom conto; preciso reler também, o da Cigana, um dos meus favoritos de quando comecei a ler com mais afinco. Conclusão: bem, não há conclusão. Acho que disse tudo que tinha para dizer. ( )